Controvérsias: Extrações ajudam a fechar a mordida?

Tivemos um excelente curso dia 8 de abril em Araraquara, onde o meu amigo o Dr. Rodrigo Viecilli (atualmente professor em Loma Linda) veio palestrar para nós no anfiteatro da UNESP. O curso foi em uma terça-feira e conseguimos ter presentes em torno de 100 pessoas, o que foi um sucesso.

Ele abordou alguns assuntos interessantes, como a reabsorção radicular, o novo fio de alinhamento que ele o Dr. Burstone desenvolveram para a Ormco (o Stress Equalizer Arch), os mitos e falácias propagados pelas empresas para vender bráquetes autoligáveis por valores 10 vezes mais altos que bráquetes convencionais, e alguns efeitos colaterais advindo da mecânica de arco contínuo e que podem ser contornados com alguns artifícios criados pela técnica do arco segmentado. Prometo que em breve escrevo alguma coisa sobre esse novo arco e sobre novidades que aparecerão no mercado brasileiro.

rodrigo

É sempre legal quando duas idéias, de duas pesssoas diferentes, coincidem sem que haja conversa prévia sobre o assunto. No curso, o Rodrigo mencionou de forma superficial uma controvérsia onde partilhamos a mesma opinião, e aqui eu vou colocar, parcialmente, a minha posição sobre a pergunta:

“Fechar espaços fecha a mordida?”

A resposta é sim e não (mais não do que sim). Eu não gosto dessas generalizações feitas por quem gostas de “hipersimplificar” as coisas, e infelizmente a ortodontia clinica e acadêmica está lotada delas. O camarada quer simplificar a ortodontia a ponto de torna-la um serviço prático e depois fica bravo quando vê camelô ou protético colando aparelho nos outros…

Fechar espaços de forma controlada, isso é, sem perda de controle de torque dos incisivos, não fecha a mordida, como também a perda de ancoragem dos molares não o faz (antes que alguém pergunte). Geralmente, numa mordida aberta é o alinhamento e o nivelamento que trata o vertical; é a intrusão de molares e ou pré-molares, é a remoção de contatos, é a extrusão de dentes em infra-oclusão que planifica as curvas de spee e deixa os planos oclusais paralelos.

Agora, se ocorrer uma retroinclinação dos incisivos durante o fechamento de espaços, e isso for desejado, é óbvio que as bordas incisais serão posicionadas mais oclusalmente e a relação vertical das mesmas muda. Mas respondam a pergunta: E quando a retroinclinação não for desejada e o fechamento da mordida sim? A extração vai fechar a mordida? É lógico que não…portanto não é a “extração” que fecha a mordida nesse caso e sim o fechamento de espaços sem controle…

Caso isso fosse verdade (que extrações aprofundam a sobressaliência vertical), o Board Americano e o Board Brasileiro deveriam ter padrões diferentes para avaliar a sobremordida onde ocorreram extrações e onde não ocorreram, o que não existe.

Querem outro exemplo, peguem a literatura…há vários artigos que comparam casos de extração versus não extração onde não foi encontrada diferença na sobremordida entre os grupos (Staggers no AJODO94;Kocadereli, no AJODO 99;Al-Nimri, no ANGLE 2006; Sivakumar e Valiathan, no AJODO 2008). Como é que isso poderia ocorrer (a ausência de diferenças entre os grupos, que diga-se de passagem são iguais inicialmente) se um tipo de tratamento aprofundasse mais a mordida que o outro? Se isso fosse verdade, existiria uma contraindicação de extrações em casos de mordida profunda e uma contraindicação de tratamentos sem extrações nos casos de mordida aberta (e não há, pelo menos para quem faz ortodontia baseada em evidências).

Observem abaixo esses três casos de extração, onde eu fechei a mordida em um…

 

Leneker1

Leneker2

Leneker3

 

…mantive a sobressaliência vertical no outro,…

Caio Moretti1

 

 

Caio Moretti2

… e finalmente, abri no último.

Suzana Molina1

Suzana Molina2

Como seria possível realizar esses tratamentos, e terminar os casos mais ou menos com o mesmo padrão, se a decisão de extrair, ou não, influenciasse de forma direta a posição vertical dos incisivos?

 

R. Martins